HOJE
QUEM PAGA SOU EU
Várias
cidades brasileiras, que sediarão jogos da Copa do Mundo, estão empenhadas na
construção de seus estádios de futebol, os quais precisam atender todos os itens
pertinentes à modernidade, segurança e conforto, tudo de conformidade com o
documento assinado pelo governo brasileiro e a Fifa. Além da construção dos
estádios, as cidades terão de fazer pesados investimentos no setor de
transportes coletivos, aeroporto, rede hoteleira, segurança, comunicação e em
outras áreas correlatas à sua infraestrutura, para que possam oferecer aos exigentes
turistas, que vierem para esse grande evento, todo o conforto como o que
desfrutam em países de Primeiro Mundo onde residem.
No
nosso caso (Manaus), esperamos que as obras relativas à infraestrutura da
cidade sejam executadas de conformidade com as técnicas de engenharia e
arquitetura mais avançadas e com um alto padrão de qualidade e durabilidade,
pois, se assim fizerem, os benefícios advindos dessas obras haverão de perdurar
por muitas décadas, e o contribuinte que paga essa desumana carga tributária
terá como consolo ver o seu dinheiro aplicado de forma inteligente e
responsável, propiciando para ele e os demais uma condição de vida mais digna,
numa cidade mais humana e moderna.
Nossas
autoridades deveriam aproveitar o momento atípico que a história lhes oferece
para limpar o centro da cidade da sujeira visual que é causada pela presença
dos camelôs, ocupando as calçadas por onde deveriam trafegar os pedestres. Para
não assumir sozinho o ônus da culpa, por executar essa árdua tarefa e perder
dividendos políticos, poderia o Executivo solicitar ao Ministério Público que o
interpelasse judicialmente para solucionar o problema, pois se a presença
desses mascates nos logradouros públicos é ilegal, sendo esse poder responsável
por zelar pelo cumprimento da Lei, nada mais oportuno que agora fazê-lo. Sempre
é tempo para se corrigir os erros do passado.
Não
me venham com o discurso hipócrita de que esse comércio ilegal é um problema
social porque se trata da sobrevivência de inúmeros pais de família. Tudo
balela. Esse seguimento, além de ser um comércio forte financeiramente,
pertence a uns poucos comerciantes que encontraram no sistema informal uma
forma de ganhar dinheiro fácil, porque não pagam impostos. Essa máfia que se
encontra acobertada pelo manto da impunidade não resiste a uma investigação
profunda feita pelos órgãos de inteligência da polícia, desde que haja vontade
e determinação oficial para fazê-lo. Para algumas pessoas, não há nenhum
interesse que a verdade seja escancarada, porque a máscara cairá e mostrará a
face daqueles que tiram proveito dessa desordem. Se esse seguimento comercial
ilegal pode conviver pacificamente com o discurso de “tudo pelo social”, visto
por essa ótica, o tráfico e o comércio de drogas poderiam ser permitido
livremente como é o outro, porque também oferece muitos empregos. O mal que
ambos seguimentos causam à sociedade é de igual tamanho. O governo, os
empresários e a sociedade como um todo têm conhecimento de todos os danos que
essa convivência espúria causa à cidade e a seu povo. No entanto, falta alguém
com “aquilo roxo”, para chutar o pau da barraca e dar um basta nessa situação
anômala. As gerações futuras haverão de nos cobrar caro a conta dessa omissão.
Quanto
ao monumental estádio que está sendo construído à custa de uma montanha de
dinheiro que, com certeza, irá fazer falta aos setores da saúde e educação, é
preciso dotá-lo de uma estrutura física que permita, após a Copa, ser utilizado
para outras atividades, visto que o nosso futebol, após a era Limonggi, não decolou,
e os times que aí estão não têm estrutura organizacional e competência para
participarem até mesmo da série D do campeonato brasileiro, daí o fiasco das
suas apresentações quando enfrentam pequenos times de fora, e a pífia renda
desses espetáculos. O povo gosta do que é bom!
Com
um Distrito Industrial faturando bilhões de dólares anualmente, se a coisa
fosse levada mais a sério, grandes empresas desse distrito, provavelmente, não
se furtariam a colaborar com o nosso futebol, pois já o fazem com inúmeros
times brasileiros de outros Estados, o que é fácil de ser constatado
verificando as camisas dos jogadores dessas equipes. Não é justo só o governo
ajudar ao futebol manauara.
A
nossa geração poderá no futuro ser questionada sobre a omissão e a gastança
desordenada de dinheiro público, pois a dívida de tudo isso que está sendo
feito agora será paga daqui a alguns anos. O amazonense do futuro poderá nos
chamar de irresponsáveis e com justiça dizer: gastaram tudo e, ″hoje quem paga sou eu”.
22/6/2012
Dauro
Braga